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Prefeitos do Litoral Norte e Agreste Baiano declaram guerra ao eucalipto: exploração sem contrapartida ameaça economia e meio ambiente

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Prefeitos do Litoral Norte e Agreste Baiano declaram guerra ao eucalipto: exploração sem contrapartida ameaça economia e meio ambiente







Uma frente de prefeitos do Litoral Norte e Agreste Baiano vem endurecendo o discurso contra as empresas de silvicultura que, ao longo dos últimos anos, expandiram suas plantações de eucalipto na região. A insatisfação é justificada: embora essas companhias explorem intensivamente os recursos naturais dos municípios, pouco ou nada deixam como contrapartida para as comunidades locais.

Em entrevistas concedidas ao portal Se Liga Alagoinhas, gestores municipais denunciaram que a mecanização do plantio e da colheita reduziu em até 90% a geração de empregos diretos, frustrando a promessa de desenvolvimento econômico. No lugar das oportunidades de trabalho, restaram estradas vicinais destruídas pelo tráfego pesado das máquinas e caminhões que servem às plantações, onerando ainda mais os cofres municipais.

A crítica não se resume ao impacto socioeconômico. Estudos científicos reforçam a gravidade ambiental da monocultura do eucalipto. Pesquisa conduzida pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó, com a colaboração do professor Renan Rezende, revelou que os riachos localizados em áreas de silvicultura sofrem redução significativa da largura dos canais, em comparação com cursos d’água preservados por vegetação nativa. Os resultados foram publicados na prestigiada revista internacional Ecosystems, repercutindo em mais de 15 veículos de ciência pelo mundo.

O levantamento, intitulado “A Global Assessment of the Effects of Eucalyptus Plantations on Stream Ecosystem Functioning”, demonstra que os impactos da expansão dessas lavouras de rápido crescimento comprometem a qualidade da água destinada ao consumo humano, à irrigação agrícola e ao lazer, além de afetar diretamente a pesca e a segurança hídrica. “As áreas de silvicultura podem ser prejudiciais ao funcionamento ecossistêmico de rios e riachos, colocando em risco a segurança hídrica da região”, alerta o pesquisador.

A situação não é exclusiva da Bahia. Em Santa Catarina, por exemplo, agricultores e pecuaristas já sentem os reflexos da redução da produtividade e do aumento dos custos em função da presença massiva do eucalipto. A lição é clara: quando se prioriza o lucro imediato das empresas em detrimento do equilíbrio ambiental e social, a conta recai sobre as comunidades.

Não se trata de demonizar o setor de papel e celulose, que possui relevância econômica para o país, mas de exigir equilíbrio e responsabilidade. É inadmissível que municípios fiquem com os danos ambientais e a sobrecarga na infraestrutura, sem qualquer compensação proporcional ao impacto causado.

Os prefeitos da região, ao se declararem em “guerra” contra as empresas, levantam uma bandeira justa: a de que o desenvolvimento econômico não pode ser dissociado da sustentabilidade e da dignidade social. É hora de uma negociação franca, na qual as companhias assumam responsabilidades ambientais e sociais, devolvendo às comunidades parte da riqueza que extraem.

Se a preservação da vegetação nativa é a chave para garantir a segurança hídrica e a vitalidade dos ecossistemas, cabe aos gestores públicos, à sociedade civil e à iniciativa privada estabelecer limites e compromissos. A monocultura predatória não pode ditar o futuro de uma região. O que está em jogo é mais do que estradas ou empregos: é o equilíbrio ambiental, a saúde pública e a sobrevivência econômica das próximas gerações.

Link do estudo completo


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