Crítico e contrário a medidas de distanciamento social, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) alertou sobre o suicídio como consequência das medidas restritivas em meio à pandemia em pelo menos duas oportunidades neste mês, o mais letal da crise no Brasil até o momento.
Em um desses episódios o presidente Jair Bolsonaro chegou a ler uma suposta carta de um suicida. Em 11 de março, com o texto na mão, ele responsabilizou o lockdown por casos de pessoas que tiraram a própria vida no Brasil.
“O efeito colateral do lockdown está sendo mais danoso que o próprio vírus. Devemos estimular, sim, fazer uma campanha para o idoso ficar em casa, para quem tem doenças e comorbidades, ficar em casa. E o resto, pessoal, tomar as medidas que estão sendo usadas no momento e vamos trabalhar, pô!”, afirmou na ocasião.
Porém, na Bahia, até o momento não houve indícios de que casos como estes tenham aumentado, pelo contrário. No estado, os registros de mortes por essa causa em 2020 se mantiveram levemente menores que no ano anterior, em que não havia pandemia. Dados da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) mostram que a média de mortes por suicídio no estado nos últimos cinco anos foi de 607,8. Sendo 543 em 2016; 605 em 2017; 567 em 2018; 663 em 2019; e 661 registros no ano passado.
ISOLAMENTO E IMPACTO NA SAÚDE MENTAL
Mesmo com a queda na Bahia, o isolamento social forçado e prolongado pela pandemia da Covid-19 preocupa especialistas e pesquisadores da saúde mental. É fato a possibilidade de agravamento de quadros de depressão e até de episódios de estresse pós-traumático.
O suicídio, problema de saúde pública em escala mundial, é uma das preocupações dos especialistas. Por ano, são registrados mais de 800 mil óbitos por essa causa. O Brasil ocupa a oitava posição no ranking, com 12 mil mortes anuais. Em 2019, esse número chegou a 13.105, aumentando 2,9% em relação a 2018 (12.725).
Em entrevista ao Bahia Notícias durante a campanha Setembro Amarelo do ano passado, a psicóloga e coordenadora do Núcleo de Estudos e Prevenção do Suicídio (NEPS) da Bahia, Soraya Carvalho, explicou que a Covid-19 gerou efeitos na saúde mental das pessoas por uma série de fatores.
O primeiro deles é o distanciamento social, “que muitas vezes é entendido como isolamento social". "E se a pessoa está com algum sintoma de problema de ansiedade, angústia, ou depressão, a tendência é agudizar esses sintomas nessa fase. Ela vai estar sozinha, ameaçada. Assim como há uma tendência de aparecer casos de quem nunca teve antes”, afirmou ao Bahia Notícias.
Soraya ressalta como outros fatores que intensificam a piora geral da saúde mental a convivência constante com a família, que pode reaver conflitos que já estavam guardados; a “infodemia”, que é o bombardeio de informações sobre o aumento de casos e mortes no mundo, bem como as fake news; os problemas econômicos, que geram incerteza sobre o futuro; e o alto nível de letalidade da doença.
“O fato de não saber se vai ter leito, respirador, gera aquele pânico, medo de contrair o vírus.
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